terça-feira, 15 de maio de 2012

Testemunha Ocular.

Ainda ardia em sua pele o toque daquelas mãos. Tinha no semblante as marcas do que fora a noite anterior. Entregara seu corpo à loucura, dormira um sono pesado nos braços de quem não merecia. Pesado estava também seu coração, que carregava as consequências da (des)aventura.

Debaixo de água quente, mergulhou corpo e alma. Lavou-se freneticamente; enxaguou-se em água corrente. Q
ueria apagar as digitais do episódio indigesto. Daquela noite não queria vestígios; daquela história não queria lembranças. Mas, ainda teria que matar à unha um último leão: voltaria à cena do (des)encontro. Precisava resgatar uma dor de grande valor, a única testemunha - a saudade - que assistira num canto, calada, o crime que tão cruelmente ela cometera contra si mesma.

domingo, 15 de abril de 2012

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Acho que pior que tentar suavizar um sentimento tão vivo, é deixar que esse sentimento seja proposto e imposto por outro alguém. Dar-se ao tempo o que é dele e esperar que o retorno desse tempo seja tão prazeroso quanto o que você doou; Mas deixo-me conformar com a idéia que Cigarros são a forma perfeita de prazer: elegantes e insatisfatórios; simpatizando-os a essa minha desgraça.

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Por fora, apenas tenho um escudo de ferro, uma casca grossa e fria, sem amor e piedade, que não se importa em saber ou se preocupar com as futilidades alheias. Mas aqui dentro só eu sei o quanto esse maltido sentimento incompreensível me sufoca, e tambem incomoda de uma maneira verdadeira, toda vez que você chega. Ontem quando coloquei minha cabeça sobre o travesseiro, senti que a dor que pulsava dentro dela iria demorar a passar, que meu peito apertado só era mais uma restrição do único motivo, de todas as noites, que eu sinto sempre; a saudade, a grande falta que você faz. E hoje, alguns minutos atrás, antes de ir pra aula, abaixo a cabeça e vem aquela sensação boa, que eu sentia quando te via andando pela rua de manhã e eu parava pra falar com você, a sensação que me deixava bem ao ver seus olhos cheios e aquele perfeito sorriso em seu rosto. E ao olhar pro lado vejo você, andando na mesma rua, como se fosse apenas a imagem que a saudade construiu para amenizar algo. Mas não, era mesmo você. Então, percebo que aquele momento era favorável a mim, que estava sendo necessário para o meu desaperto. Chegamos ao mesmo lugar, no mesmo horário, com as mesmas coisas pra fazer. Você me pergunta se estou bem, apenas digo que estou. Uma única palavra, mas vários pensamentos em silêncio. Sentada, apoio meus braços em minhas pernas, tentando conter o tremor que nelas teimava persistir. Fiquei esperando que alguém aparecesse, ou que algo dentro da gente se resolvesse.
Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio.

[Caio Fernando Abreu]
"O ardor da garganta e a lentidão dos olhos ofuscam-me no espelho. E escrevo demoradamente mas pensando na possível explosão da tinta artística no velho papel."

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Você nunca sabe a força que tem,
até que a sua única alternativa é ser forte.
Sinto uma falta que ecoa, uma vontade de te aguardar, olhando pra você sorrir e lhe entregar um mocaccino pra recordar.